The Brave One

Janeiro 17, 2008

The Brave One (2007)

de Neil Jordan

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The Brave One, da autoria de Neil Jordan e baseado num argumento e história de Roderick Taylor retrata a espiral descendente de violência e loucura de Erica Bain, uma locutora de rádio que se vê envolvida num episódio traumático quando o seu namorado é assassinado após um assalto violento. Jodie Foster tem aqui uma das melhores interpretações da sua carreira e esta é seguramente uma das melhores interpretações femininas do ano. The Brave One é essencialmente um filme sobre o medo e sobre as consequências que um episódio traumático podem provocar na sanidade mental de uma pessoa. Após recuperar do coma, que sofreu após o assalto, Erica acorda para uma nova vida na qual se sente apavorada, confusa e isolada. Como válvula de escape transforma-se numa vigilante que vagueia pelas ruas da cidade durante a noite tentando fazer justiça pelas próprias mãos. Não é um filme brilhante, nem sequer das melhores criações de Neil Jordan, mas é um retrato interessante de uma América em estado de choque após o 11 de Setembro e anestesiada pelo medo do desconhecido e daquilo que não compreende. Os críticos argumentaram que a violência excessivamente gráfica do filme lhe retirava muito do realismo mas a sua grande falha reside no seu subtil toque racista que conduz o espectador. 

 A qualidade interpretativa de Jodie Foster, que consegue provar novamente porque é uma das poucas leading ladies de Hollywood que consegue carregar sozinha um filme às costas com relativo sucesso no box-office. 

 Apesar de sólido, o argumento necessitava de umas arestas limadas, principalmente no seu final, que se revela bastante implausível e decepcionante. As comparações que fizeram entre este filme e a obra-prima que é Taxi Driver não podiam ser mais distantes.


Knocked Up

Dezembro 12, 2007

Knocked Up (2007)

de Judd Apatow

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Knocked Up é provavelmente a comédia mais divertida do ano. Construída sobre um argumento bastante original e linear, conta-nos a história de Alison e Ben, que podem ser facilmente considerados como um dos pares mais improváveis da história do cinema. De facto, se ao observarmos individualmente cada um dos protagonistas dificilmente os poderiamos imaginar no mesmo restaurante, mais díficil ainda seria imginá-los na mesma cama. Mas é este o factor essencial e catalisador desta comédia e que acaba por fazê-lo resultar tão bem. Em Knocked Up, Alison, interpretada por Katherine Heigl, que já conhecemos de Grey´s Anatomy, é uma jovem bem sucedida que decide comemorar a sua recente promoção com uma noitada de copos na companhia da sua irmã. Na discoteca, com um nível de álcool acima do permitido por lei, Alison conhece Ben, um inútil patológico, cujo objectivo na vida é conseguir montar um site na internet dedicado a catalogar os filmes nos quais qualquer actriz apareça despida. Fruto do álcool a mais, Alison e Ben acabam por viver uma noite da qual ambos se acabam por arrepender na manhã seguinte. Decidida a nunca mais ver Ben, os problemas começam dois meses mais tarde quando Alison descobre que se encontra grávida… Judd Apatow já tinha revelado o seu génio quando realizou e escreveu The 40 Year Old Virgin tornando-o num dos maiores sucessos de bilheteira do ano passado. Neste momento, com Knocked Up, arrisca-se a tornar-se o argumentista de comédia mais requisitado de Hollywood. Apesar de orientado para um público bastante mais jovem, Knocked Up acaba por se revelar uma comédia bastante adulta pelo tema que foca. O humor nunca é deixado ao acaso e algumas cenas como a dos cogumelos mágicos dificilmente poderiam ter mais piada. A grande surpresa, é no entanto, Katherine Heigl, que aqui revela, com uma grande qualidade interpretativa, que poderá em pouco tempo assumir-se como uma das leading ladies mais procuradas do cinema americano. Nascida de uma das séries de mais sucesso dos EUA, pelo qual já venceu um Globo de Ouro, este é sem dúvida o seu primeiro passo para voos mais altos.  

 O argumento bem estruturado, inteligente e bastante divertido. É uma comédia bem acima do nível da maioria que nos são apresentadas hoje em dia. A este facto não é alheia a qualidade dos actores que não precisam de ser grandes estrelas para aguentarem firmemente o peso do filme.

 Apesar da qualidade narrativa e da estrutura linear do argumento, o filme não consegue escapar a alguns dos clichés mais banais de qualquer comédia que se tenta orientar para um público mais jovem.


The Bourne Ultimatum

Dezembro 10, 2007

The Bourne Ultimatum (2007)

de Paul Greengrass

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The Bourne Ultimatum, o terceiro capítulo da saga do agente secreto Jason Bourne arrisca-se a tornar-se o melhor filme de acção do ano. Interpretado novamente por Matt Damon, Bourne Ultimatum surge-nos carregado de uma dose de adrenalina e de duas horas de acção frenética como há algum tempo não se via. É de longe o melhor filme da trilogia e o que essencialmente o distingue dos outros filmes do género é a qualidade do seu argumento e principalmente da coerência da sua estrutura narrativa. Ultimatum não se afasta muito do estilo dos dois anteriores episódios: mais uma vez encontramos Jason Bourne na busca pela sua identidade perdida enquanto a organização que o criou se encontra novamente apostada em eliminá-lo. Mais uma vez os jogos de poder internos e os desencontros serão decisivos no desenrolar da acção. Neste capítulo, Bourne encontra-se cada vez mais perto de descobrir quem o transformou numa máquina assassina perfeita e quem lhe apagou por completo a memória e as recordações. No entanto, a resposta a estas questões poderá revelar-se mais complexa e dolorosa do que poderia imaginar.

Paul Greengrass, realizador do segundo episódio e recentemente nomeado para o Oscar de Melhor Realizador por United 93, prova mais uma vez que se encontra em grande forma. De facto, The Bourne Ultimatum nunca resultaria tão bem se não fosse apresentado como a descarga eléctrica de mais alta voltagem que é e se não fosse pelas opções artísticas tomadas na sua concepção. Tecnicamente o filme é de uma forma geral irrepreensível; a fotografia está bastante boa, bem como todas as questões ligadas ao som e efeitos sonoros. No entanto, tal como em United 93, é na montagem de Christopher Rouse que reside a grande mais-valia do filme. Repleto de planos alucinantes e cortes rápidos, não seria de admirar que o filme se encontrasse a caminho de uma nomeação nesta categoria. Isso se a Academia conseguir ultrapassar os complexos que geralmente tem em reconhecer as qualidade e méritos de alguns filmes de acção.

Relativamente às interpretações, a sempre confiável Joan Allen reencarna novamente a personagem de Pamela Landy, agora bastante mais perspicaz e que irá, de uma forma mais activa, tentar realmente ajudar Bourne; Julia Stiles regressa novamente e não desaponta, e Brian Cox revela-se no final do filme como um vilão arrepiante. Obviamente a grande interpretação do filme cabe a Matt Damon que se transfigura nesta figura de acção absorvendo por completo a personagem de Bourne. Neste caso, a publicidade não é enganosa: realmente, Matt Damon is Jason Bourne.

 A acção a um ritmo imparável e frenético que mantém o espectador completamente preso ao ecrã do inicio ao fim do filme.

 Para quem perdeu os dois primeiros episódios da saga poderá ser um pouco díficil de acompanhar e principalmente perceber as motivações de determinadas personagens.


A Mighty Heart

Novembro 16, 2007

A Mighty Heart (2007)

de Michael Winterbottom

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A Mighty Heart não é um filme excepcional, mas está carregado de boas intenções. Relata-nos as semanas que se seguiram ao desaparecimento de Daniel Pearl, jornalista do Wall Street Journal, assassinado no Paquistão em 2002. O filme é apresentado inteiramente na perspectiva da sua mulher Marianne Pearl. A presença de Daniel Pearl no filme, apenas no seu ínicio e attravés de flashbacks, é curta, possibilitando que a acção se concentre na totalidade na personagem de Marianne, interpretada na perfeição por Angelina Jolie. Nas suas duas horas de duração é-nos permitido conhecer as duas semanas de plena incerteza e desespero que familiares e amigos viveram na sua busca e que culminaram na tragédia pessoal que o mundo veio a conhecer. O filme nunca se desvia do seu rumo e do seu assunto principal, a busca de um homem raptado numa das maiores e mais caóticas cidades do planeta, mas mostra-nos também o lado humano de todos os que participaram e de como esse desaparecimento os afectou. A Mighty Heart não é um prodígio de realização ou tecnicamente inovador, mas envolve-nos lentamente na sua história. No final, vale pelo menos por nos alertar a consciência para atentados aos direitos humanos que continuam a ocorrer um pouco por todo o planeta.

 Angelina Jolie comprova mais uma vez porque não é apenas Mrs. Pitt ou mais uma cara bonita para aparecer em revistas. O seu talento natural transfigura-se no ecrã e será provavelmente uma das actrizes nomeadas para uma estatueta dourada no próximo mês de Fevereiro.

 A opção estética da câmara em movimento durante todo o filme torna-se cansativa ao fim de alguns minutos. Se a intenção de Michael Winterbottom era a de tranmitir o caos que se vive na cidade de Karachi, conseguiu-o absolutamente. Mas poderia não deixar o espectador enjoado durante grande parte do filme.


Death Proof

Outubro 22, 2007

Death Proof (2007)

de Quentin Tarantino

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Tarantino sai novamente da toca após os dois excelentes capítulos de Kill Bill e lança novamente uma pedrada no charco. Nada de extramamente invulgar. Afinal, começa-se a comprovar que até quando Tarantino faz um filme descaradamente mau, ele é descaradamente óptimo. Desta vez, proporciona-nos mais uma visão original do seu conceito de girl-power, noção que já é mais que habitual nos seus filmes. Numa clara homenagem aos filmes de série Z dos anos 70, Tarantino apresenta-nos uma história gore q.b. sobre um duplo de cinema que se diverte a matar grupos de raparigas assassinando-as em brutais acidentes de viação. Kurt Russell, encarna perfeitamente o papel deste maníaco quase suicida que vai escapando impune pelas estradas por onde passa. Todas as actrizes são perfeitamente escolhidas e parecem saídas do último comic encontrado na prateleira e estão bem fornecidas de estilo e sensualidade. Obviamente, os diálogos afiados e absolutamente desconcertantes marcam a sua presença obrigatória, bem como a montagem e fotografia abusivamente estilizadas. Para variar, um dos grandes trunfos do filme é sem dúvida a sua banda sonora, bem revivalista das sonoridades dos 70´s. Death Proof não é seguramente para todos os estômagos, mas é obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze.

 O estilo, a linguagem e a banda sonora, marcas inconfundíveis de todas as criações de Tarantino. A sequência do primeiro acidente é assustadoramente brutal.

 O período inicial do filme é um pouco lento e longo. É, no entanto, necessário para criar o ambiente de girl-power pretendido por Tarantino. Infelizmente a personagem de Kurt Russell perde proporcionalmente no seu desenvolvimento e as suas motivações enquanto serial-killer nunca são suficientemente desenvolvidas. Mas isso será realmente necessário?


Ratatouille

Outubro 15, 2007

Ratatouille (2007)

de Brad Bird

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Que Brad Bird é um génio já ninguém coloca em questão. Ele é um dos cérebros responsáveis pela genialidade dos Simpsons e foi o criador de um dos maiores e mais originais sucessos de animação dos Estúdios Pixar, The Incredibles. O que ninguém esperava é que conseguisse transformar o impensável em algo apelativo, rentável e que arrastasse multidões às salas de cinema. Foi o que aconteceu com Ratatouille, uma história improvável de um rato, Remy, cujo maior desejo na vida é tornar-se um chef de cozinha. Dividido entre o seu sonho ou continuar um rato de esgoto tal como pretende e espera a sua família, Remy irá envolver-se nas mais variadas aventuras e peripécias para se encontrar a si próprio e ao seu destino. Esta seria uma história condenada ao fracasso por qualquer pessoa na sua perfeita sanidade mental. Mas não foi o que aconteceu com Ratatouille. De facto, tornou-se um dos grande sucessos deste Verão e um campeão de box-office mundial.

Caracterizado por utilizar a última tecnologia em animação, Ratatouille é quase perfeito na composição física e emocional das personagens. Consegue misturar comédia, drama e intriga carregado sempre de uma boa dose de humor. Composto por personagens tão caricatas quanto complexas, é um filme que foge a todo o momento da banalidade e dos clichés habituais. Linguini, o desastrado aprendiz de chef que “adopta” Remy é impagável em todas as trapalhadas que comete, Skinner é dos vilões mais requintadamente maléficos que apareceram nos últimos tempos e até Anton Ego, o crítico gastronómico implacável, saído de um provável filme de Tim Burton, impressiona pela sua imponência e arrogância. Com um argumento delicioso, tais como os pratos que Remy confecciona, Ratatouille é decididamente um dos melhores filmes deste ano. Será certamente o vencedor antecipado do Oscar para Melhor Filme de Animação em Fevereiro apesar de Bee Movie ainda não ter sido apresentado ao público. E uma nomeação do seu argumento também não será de estranhar. É um filme de ver e chorar por mais.

 A humanidade impressionante de Remy, um rato que revela uma sensibilidade particular ao longo de todo o filme; A cena em que Anton Ego prova finalmente um prato confeccionado por Remy irá ficar provavelmente como uma das mais memoráveis deste ano; A qualidade da animação, absolutamente perfeita, que tornam Ratatouille numa obra-prima instantânea.

 À partida não é um filme de animação apelativo a todos os públicos. É uma história bastante adulta e que poderá não ser perfeitamente adaptada ao público infantil.


The Simpsons Movie

Outubro 12, 2007

The Simpsons Movie (2007)

de David Silverman

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 São os Simpsons… Não há muito mais a dizer. O humor, a sátira e a crítica corrosiva estão sempre presentes e bem vincados. Um filme a devorar como donuts fresquinhos.

 Talvez por uma expectativa exagerada e também por cerca de 18 anos de espera pela versão cinematográfica da família Simpson, qualquer filme que fosse realizado saberia sempre a pouco. E obviamente que sentimos um pouco que estamos na presença de um episódio semanal com duração XL, mas como qualquer episódio dos Simpsons é largamente superior a muito do cinema que se faz actualmente, este tipo de crítica apenas atesta a qualidade do filme. Impagável é sermos gozados por Homer por estarmos a pagar por algo que podemos ver de graça todas as semanas na TV.


Ocean´s 13

Julho 26, 2007

Ocean´s 13 (2007)

de Steven Soderbergh

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É sem dúvida o filme mais cool deste Verão. Está repleto de gags e situações bastante cómicas. Pitt, Clooney e Damon continuam no seu melhor. 

 Apesar da boa disposição e coolness do filme, transparece cada vez mais a atitude de “nós somos estrelas a gozar umas férias” o que prejudica bastante a estrutura do filme. A ausência de uma figura feminina mais forte também prejudica o filme. Julia Roberts e Catherine Zeta-Jones eram bastante mais carismáticas do que Ellen Barkin.


Pirates Of The Caribbean: At World´s End

Junho 20, 2007

Pirates Of The Caribbean:

At World´s End (2007)

de Gore Verbinski

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Gore Verbinski tornou-se em pouco tempo o menino de ouro dos blockbusters americanos. O segredo do seu sucesso encontra-se numa das últimas minas de ouro cinematográficas dos últimos anos. Falamos obviamente da trilogia de Pirates Of The Caribbean que desde 2003 somou já mais de 2.5 biliões de dólares em todo o mundo. Ao ritmo a que Pirates Of The Caribbean: At World´s End vende bilhetes arrisca-se a ultrapassar brevemente o seu antecessor que rendeu mais de 1 bilião de dólares nas bilheteiras há pouco mais de um ano. Infelizmente um estrondoso box-office não é sinónimo de qualidade na mesma proporção. Apesar de não ser um filme mau, este último filme revela-se uma grande desilusão. At World´s End é um filme extremamente pesado e longo, repetitivo nos gags anteriores e perde a frescura e originalidade dos seus antecessores. Obviamente não deixa de ser um grande objecto de entretenimento, ideal para os dias de calor de Verão, mas as expectativas geradas pelos dois excelentes filmes anteriores eram elevadas de mais.

Johnny Depp, é novamente o grande trunfo do filme com a sua interpretação sempre excelente de Jack Sparrow. Jack é resgatado do mundo dos mortos por uma aliança improvável entre Will, Elizabeth e o Capitão Barbossa. Este é o mote da história que irá levar novamente ao confronto entre Jack e Davy Jones. Barbossa, ausente desde o primeiro episódio da trilogia, é encarnado novamente por Geoffrey Rush que faz a sua interpretação parecer um passeio no parque. Orlando Bloom e Keira Knightley por outro lado parecem completamente deslocados da acção. Apesar da pobreza do argumento, nenhum aspecto técnico do filme foi descurado e em termos de efeitos visuais, o filme revela-se ao melhor nível daquilo que se produz actualmente. Este facto também não é de estranhar tendo em conta o orçamento envolvido na sua produção.

Ver Pirates Of The Caribbean: At World´s End não significa cometer um pecado cinematográfico. Bem pelo contrário. Enquanto objecto de entretenimento é perfeito. Só se lamenta é que qualquer eventual impacto que o filme possa ter seja rapidamente dissipado por uma caipirinha na esplanada mais próxima.

 Johnny Depp continua impagável na pele de Jack Sparrow.

 Tal como a grande maioria dos blockbusters deste ano, este Pirates Of The Caribbean peca pela sua excessiva duração e inconsequência. Perdeu-se a frescura e originalidade dos dois filmes anteriores.


Zodiac

Junho 14, 2007

Zodiac (2007)

de David Fincher

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David Fincher continua a marcar positivamente todos os projectos em que participa. Com Zodiac, demonstra mais uma vez porque foi considerado o menino-prodígio da sua geração. Embora bastante afastado do estilo a que nos habituou com obras-primas como Se7enFight Club, Zodiac revela-se provavelmente o seu filme mais meticulosamente elaborado e formalmente mais bem conseguido. Zodiac retrata a investigação policial dos crimes do Zodíaco, um serial killer que aterrorizou a cidade de São Francisco nas décadas de 60 e 70, cometendo uma série de homícidios brutais e aparentemente aleatórios. Sendo um filme de época, que se estende por cerca de três décadas foi dada uma particular atenção aos mínimos detalhes e pormenores da produção. Toda a construção da narrativa também está bastante bem conseguida e o filme acaba por pecar apenas pela sua excessiva duração e pelo crescente avolumar de personagens que são introduzidas sem qualquer relevância para a trama.

Composto por um elenco de luxo, de que se destacam Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Chloe Sevigny e uma série de outros notáveis que aceitaram interpretar breves cameos, o filme não desaponta nunca pelas suas interpretações. Com uma fotografia exemplarmente estudada e executada, e com momentos de tensão particularmente bem colocados, Zodiac revela-se uma das primeiras agradáveis exibições do cinema norte-americano de 2007.  

 A realização segura e sempre confiável de David Fincher.

 A excessiva duração do filme e o número crescente de personagens que pouco ou nada contribuem para o desenrolar da acção.


La Vie En Rose

Maio 28, 2007

La Vie En Rose (2007)

de Olivier Dahan

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La Vie En Rose é um filme marcante. Não só porque retrata a vida de Édith Piaf, uma das mais conhecidas vozes de França e do Mundo, mas também porque o impacto que nos deixa no seu final e as músicas de que é composto não nos largam durante dias.

Édith Piaf foi uma figura singular e genial. Dona de uma voz ímpar, que actualmente se confunde com a própria França, a sua figura franzina e débil não foi capaz de conter tamanho talento. Piaf morreu apenas com 48 anos, vítima dos seus próprios excessos, mas parecia ter 80. Estranhamente fica-nos a sensação que foi a sua própria voz que lhe consumiu o corpo, incapaz de conter tamanha força e energia. Morreu como qualquer um de nós, com medo da solidão e de terminar sozinha. Foi uma figura controversa, complicada e por vezes intratável. Uma diva no verdadeiro sentido da palavra, mas apenas no que tocava à sua arte. Não era uma mulher de luxos ou de ostentação. E embora a sua voz fosse maior que a vida, era apesar de tudo uma mulher. Uma mulher sofrida, triste e dependente marcada por uma infância falhada, por uma mãe ausente e pelos primeiros anos da sua vida passados num bordel dirigido pela sua avó paterna. Cresceu nas ruas onde começou a cantar e onde foi descoberta. Anos mais tarde o mundo rendeu-se ao seu imenso talento e tornou-se o seu palco. No final tornou-se um símbolo de França e a sua voz imortal. 

Quanto ao filme, e apesar de ter um ínicio turbulento e um pouco desestruturado, La Vie En Rose ganha no seu segundo acto um ritmo mais calmo e contido. Em parte é um reflexo da vida da própria cantora e da evolução do seu estado de espírito. Recorrendo a inúmeros flashbacks somos introduzidos aos diversos estágios da vida de Piaf. O seu crescimento, a sua ascenção e queda, à doença e dependência que a consumiu durante anos, mas também à alegria e a uma vontade indomável de viver. No primeiro plano deste tour de force encontra-se Marion Cotillard, uma actriz francesa relativamente desconhecida do grande público. Ela é a grande surpresa deste filme. Completamente imbuída no seu papel, Cotillard transfigura-se e revela-nos Piaf em tudo o que teve de maior e de menor. A caracterização física está excelente bem como a reconstituição de uma época perdida das ruas de Paris. E hoje, não existe França sem Piaf. 

 Marion Cotillard, numa interpretação impressionante de Édith Piaf e o final do filme, simplesmente arrebatador.

 Infelizmente o ínicio do filme parece desestruturado e sem rumo, contrastando com toda a linha de narrativa quase perfeita que se segue.


Breach

Maio 21, 2007

Breach (2007)

de Billy Ray

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Breach retrata a falha de segurança mais grave que o FBI viveu em toda a sua existência. É bastante significativo que essa falha tenha sido desmascarada há apenas seis anos poucos meses antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Esta é a história verídica de Robert Hanssen, um antigo espião americano que vendeu durante anos segredos de Estado americanos a potências estrangeiras sempre escudado na alta posição de poder e influência que detinha. O filme relata os acontecimentos e os meses de investigação que levaram à sua detenção em Fevereiro de 2001.

O filme é realizado por Billy Ray, um relativo desconhecido das grandes audiências, e à parte do seu argumento extremamente bem delineado, não é um filme original. Composto por um elenco apelativo, de que se destacam Chris Cooper e Laura Linney, apresenta ainda um Ryan Phillippe mais adulto e consistente, na linha do que já tinhamos assistido em Crash. Ryan Phillippe interpreta Eric, um jovem e inexperiente agente do FBI destacado como ajudante de Robert com a missão de monitorar e seguir todos os seus passos. Apesar de conter uma premissa interessante, que poderia estar melhor explorada, Breach não é um filme suficientemente empolgante, contendo apenas dois ou três grandes momentos de tensão. O seu ponto alto assiste-se numa das cenas finais, num parque à noite, e com um confronto directo entre Eric e Robert pouco antes dos acontecimentos que conduzem à queda em desgraça do antigo espião. Chris Cooper consegue transmitir de forma eficaz o lado negro e assustador de Robert Hanssen, um homem católico, conservador, frustrado e obcecado pelo dever, capaz de trair os colegas e o país em troca de dinheiro e satisfação pessoal. 

O filme tem a virtude de se manter focado no tema e não se dispersar. Não se alonga demasiado em questões acessórias e nesse sentido, assistir a Breach não é uma perda de tempo. É bastante superior à grande maioria dos filmes do género, mas no final não deixamos de sentir um gosto a oportunidade perdida.

 As interpretações de Chris Cooper e de Laura Linney.

 Não acrescenta nada de novo aos filmes do género.


Spider-Man 3

Maio 18, 2007

Spider-Man 3 (2007)

de Sam Raimi

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Um filme meramente razoável é aquilo que Sam Raimi realiza nesta terceira parte de Spider-Man. Abusivamente carregado de efeitos especiais e desprovido de complexidade e dimensão dramática, Spider-Man 3 não passa de um exercício de entretenimento. Não desaponta os seguidores do herói, mas também não acrescenta nada de novo.

A actuação é geralmente razoável; Tobey Maguire continua a precisar de umas aulas de projecção de voz, Bryce Dallas Howard está um pouco deslocada durante todo o filme e até Kirsten Dunst já esteve em melhor forma, denotando-se algum cansaço e desgaste da sua personagem. A melhor interpretação cabe a Thomas Haden Church no papel de Sandman, um vilão com um mínimo toque dramático e humano.

O grande problema de Spider-Man 3 reside essencialmente na sua duração excessiva, consequência da sobrepopulação de vilões e personagens secundárias inconsequentes. Este é um filme que poderia facilmente ter sido transformado em dois de duração bastante inferior e todas as suas linhas narrativas teriam ganho mais profundidade e significado. Na forma apresentada, tudo parece superficial e inócuo. Por outro lado, o efeito redentor de todos os vilões não funciona minimamente e consegue tornar-se ridículo. Se no fundo todos estes vilões, Sandman, Green Goblin e Venom são no fundo boas pessoas com motivações válidas para cometer o mal (?), qual a relevância da existência de Spider-Man?

Obviamente os efeitos visuais e sonoros do filme são do melhor nível e adivinham-se algumas nomeações nas categorias técnicas dos Oscars do próximo ano. A cena do “nascimento” de Sandman está particularmente bem feita e chega a ser poético assistir à criação de um ser com o coração destroçado, refeito e desfeito em partículas e grãos de areia. Ainda assim, e apesar da excelente qualidade técnica a pobreza do argumento é evidente e no final, Spider-Man 3 não passa de uma monótona e longa viagem de montanha-russa.

 Os efeitos especiais.

 Não existe densidade dramática ou humana em nenhuma das personagens. Todas parecem figuras de plástico animadas.


The Namesake

Maio 16, 2007

The Namesake (2007)

de Mira Nair

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Uma pequena pérola e uma grande surpresa é o que nos revela Mira Nair quando nos apresenta esta sua última obra. The Namesake é uma história simples sobre a integração de uma família indiana na sociedade norte-americana. Relata-nos o seu crescimento, as suas alegrias, tristezas e contrariedades. A simplicidade utilizada é apenas um formalismo, um mecanismo para representar algo que por vezes nem todos sabemos; que a noção de família é algo universal, algo de comum em todos os cantos do Globo, qualquer que seja o local onde nascemos e crescemos. Apesar das diferenças, esta família poderia ser a família de qualquer um de nós em todas as suas qualidades e defeitos.

A história de The Namesake inicia-se na Índia há cerca de trinta anos atrás e atravessa duas gerações. É inicialmente contada na perspectiva de uma jovem mulher, Ashima, interpretada pela cativante e excelente Tabu, e transita lentamente para a perspectiva do seu filho, Gogol, um jovem indiano, nascido anos mais tarde, já em solo americano. Este nome, do qual ele não se orgulha e que pretende alterar, tem uma origem e um significado que remonta à juventude do seu pai e que encerra em si próprio um mistério por desvendar.

Em The Namesake o choque e as diferenças culturais são um tema sempre presente. Os costumes, tradições, hábitos de uma cultura e de outra colidem constantemente. Amor, amizade, perda, dor, saudade, todos confluem num nexo de causalidade intenso. O filme mergulha-nos na cultura indiana, em toda a sua riqueza e beleza e mostra-nos um retrato intimista que raramente nos é dado a conhecer.

The Namesake é um dos mais belos hinos à família que se viram no cinema. Toca-nos porque nos revemos em cada palavra que é dita ou que fica por dizer. Encarna em si tudo aquilo que somos, tudo o que aprendemos e todos em que tocamos. Mostra-nos aquilo que os nossos pais nos transmitem e os erros que cometemos por não os compreendermos e não sermos compreendidos. Contém em si, o peso de se crescer, de nos tornarmos adultos e independentes. Mostra-nos todas as escolhas erradas quer fazemos. No fundo, The Namesake encerra em si a nossa luta eterna contra o tempo e a impossibilidade de se voltar atrás a um canto da memória em que nos era permitido sermos felizes.

 A honestidade e simplicidade do filme.

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Sunshine

Maio 1, 2007

Sunshine (2007)

de Danny Boyle

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Sunshine, a última criação de Danny Boyle, é uma abordagem razoável a um género que o realizador não nos habituou. Danny Boyle, um dos enfants-térribles do cinema inglês é autor de filmes geniais, como Trainspotting e Millions, mas é também autor de verdadeiros desastres como The Beach. Com Sunshine o realizador fica a meio termo, nem surpreendendo nem desapontando.

Sunshine é um filme de ficção científica que nos relembra o primeiro Alien no seu ambiente claustrofóbico. Resumidamente, o filme situa-se num futuro distante no qual o Sol está a morrer. A Terra e a Humanidade encontram-se a um passo da extinção e a única esperança reside num grupo de oito homens e mulheres enviados para o espaço com a missão suicida de “reacender” a estrela novamente. O que se inicia como uma nova versão de Armageddon prova ser algo bem mais profundo e dramático. Esta não é uma história de sacríficio e coragem, nem de heróis na forma como os conhecemos. Os seus personagens são apenas humanos nas suas qualidades e defeitos, e quando necessário terão de tomar decisões rápidas e viver ou morrer de acordo com as suas consequências. Esta é uma histórias de pessoas presas a pequenos espaços, presas a uma missão da qual não podem escapar e presas umas às outras.

No entanto, em toda a sua improbabilidade, o filme levanta uma série de questões importantes. Quando tudo se parece desmoronar, o que se torna mais importante? O sucesso da missão ou a sobrevivência individual? Salvar a Terra ou regressar a casa em segurança condenando toda a Humanidade? Mataríamos um amigo/colega se isso significasse a salvação de um planeta inteiro? Estas não são questões de resposta fácil. E, felizmente ou infelizmente, o filme também não as tenta responder.

Na sua grande parte, Sunshine é uma agradável e boa experiência. As interpretações são geralmente boas, existem momentos cinematográficos de inegável beleza e acredito que o Sol nunca foi mostrado antes como neste filme. Por vezes, na sua ameaça destruidora torna-se uma personagem própria e parte integrante da história.  No entanto, Danny Boyle perdeu o controlo à sua própria criação e no terceiro acto do filme a história implode sobre si própria e perde-se o que poderia vir a ser uma grande obra-prima. Escolher terminar o filme com uma sucessão de imagens desfocadas e uma montagem à velocidade da luz é uma opção estética válida, mas neste caso bastante errada. Sunshine até esse ponto caracterizava-se por um ritmo lento muito próprio, como se cada plano e cena fossem meticulosamente estudados. De repente, e sem aviso, torna-se numa caótica versão espacial de The Shining. Infelizmente, não há um Jack Nicholson à vista nem um Stanley Kubrick ao leme. E é aí que sentimos que algo correu irremediavelmente mal.

 Visualmente é um filme impressionante. Está repleto de boas idéias que mereciam ter sido melhor exploradas.

 O seu final. Não tanto pelo desenlace da história, mas pela opção estética utilizada.


The Last Kiss

Abril 23, 2007

The Last Kiss (2006)

de Tony Goldwyn

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The Last Kiss, um remake do filme italiano, Il Ultimo Bacio, é uma história surpreendentemente bem escrita sobre um grupo de amigos prestes a atingir os 30 anos e que tentam aprender a lidar com a complexidade de se tornarem adultos.

Essencialmente, The Last Kiss é um filme sobre a família, casamento e a dificuldade de crescer nos dias de hoje. Escrito por Paul Haggis, vencedor do Oscar de Melhor Argumento Original por Crash, o filme reflecte as dúvidas e incertezas que qualquer individuo sente quando as responsabilidades pelas suas acções começam a pesar no seu futuro. A realização segura de Tony Goldwyn permite que o filme nunca perca o rumo e mantém o seu toque bastante humano. Felizmente, The Last Kiss não é um drama pesado e complexo que se perca no seu próprio enredo. Os momentos mais dramáticos são sempre contrabalançados por momentos de pura ironia e humor que lhe conferem alguma leveza. Zach Braff, saído do brilhante Garden State interpreta Michael, um jovem arquitecto numa crise de meia-idade precoce, e lidera um elenco de jovens actores que poderão ainda dar muito que falar como próxima geração do cinema.

No entanto é em Blythe Danner e Tom Wilkinson e nas suas respectivas interpretações que reside um dos grandes trunfos do filme. Ambos representam um casal, cuja filha, Jenna, interpretada por Jacinda Barrett, se encontra prestes a ter um filho de Michael. Consumidos por um casamento de mais de trinta anos o casal vive um dos piores momentos do seu casamento. As dúvidas de envelhecerem carregados de expectativas por cumprir começam a pesar seriamente na sua relação. Eventualmente a ameaça da infidelidade irá pairar sobre ambos os casais e as suas consequências poderão ser demasiado sérias. The Last Kiss dificilmente será o filme da vida de alguém. Mas é uma agradável experiência e também nos ajuda a crescer.

 

 O argumento fresco e bastante vivo, carregado de humor e ironia nos momentos certos.

 Apesar de bem realizado, formalmente não é um filme original e sente-se algum academismo na sua concepção.


300

Abril 17, 2007

300 (2007)

de Zack Snyder

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Quando Gladiador foi lançado nos cinemas com grande sucesso em 2000, Hollywood foi recuperando lentamente um estilo de filme que se encontrava esquecido há algumas décadas. Este género, a que os americanos designam como sand & sandal, designa geralmente épicos históricos, gregos e/ou romanos, que retratam habitualmente um herói histórico ou mitológico e acontecimentos marcantes da época. Com o revitalizar do género, surge-nos agora 300, uma produção grandiosa, com um estilo visual que nos lembra bastante Sin City. Mais uma vez estamos perante uma adaptação de um comic book do mestre Frank Miller que retrata a batalha de Termópilas, na qual segundo reza a lenda, o Rei de Esparta, Leónidas, e 300 guerreiros espartanos enfrentaram o exército de um milhão de soldados do Rei Xerxes da Pérsia. A tarefa hérculea foi entregue a Zack Snyder, um realizador desconhecido, que conseguiu segurar o projecto com bastante competência. Obviamente, grande parte da história é ficcionada, e é um facto que poderia estar melhor explorada, mas adaptar um comic e conseguir a partir daí desenvolver personagens reais e consistentes não é certamente uma tarefa fácil. 

300 funciona essencialmente como um espectáculo visual e como puro entretenimento, não devendo ser encarado como muito mais do que isso. Quem procurar rigor histórico irá provavelmente ficar desiludido, mas também não é a isso que o filme se propõe. O filme aproxima-se de um estilo de comic book em movimento, mas com figuras de carne e osso. Utiliza abusivamente, mas de forma perfeita, slow motions e cortes rápidos dos planos, mantendo um ritmo frenético e uma acção constante. Contém cenas de encher o olho, figuras fantásticas e uma fotografia saturada entre os tons de areia e os cinzentos que envolvem de forma hipnótica o espectador. As batalhas e as cenas de lutas estão especialmente bem coreografadas e não será de estranhar que o filme venha a ser considerado nas categorias técnicas na próxima cerimónia dos Oscars. Bastante violento e com algumas cenas um pouco gore, cumpre certamente a missão de revitalizar os épicos para as gerações mais jovens.  

O papel principal foi atribuído a Gerard Butler, um actor com poucas provas dadas no cinema e que poderá ter aqui o seu merecido impulso,  secundado por uma galeria de ilustres desconhecidos. No papel de um rei nobre, de coração guerreiro, disposto a sacrificar a vida para defender um modo de vida e dos seu súbditos Gerard Butler torna-se bastante credível. Sente-se no entanto que a grande fatia do orçamento de 300 foi gasta na construção do épico e não no pagamento de cachets, contrariando o que se verificou em Troy, que estava repleto de estrelas conhecidas do grande público. 300 é um bom épico, musculado, no verdadeiro sentido da palavra e que apela ao adolescente dentro de nós. Não nos muda a forma de perceber a vida, mas também não desaponta. A descobrir.

 A composição de todo o filme. Visualmente é um filme impressionante.

 A narrativa tem bastantes pontos altos e baixos. Num momento sentimos que estamos na presença de uma obra-prima, e no momento seguinte assistimos ao que de mais banal se pode esperar de um filme do género.


The Painted Veil

Março 27, 2007

The Painted Veil (2006)

de John Curran

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John Curran não é um realizador com uma grande projecção ou uma grande experiência. O seu curriculum não é vasto nem carregado de filmes conhecidos do grande público, mas o seu anterior filme, We Don´t Live Here Anymore despertou a atenção dos críticos em 2004. Tratava-se de um drama familiar contido, bem estruturado, sobre a infedilidade e as suas consequências, e que contava com a participação de uma relativamente desconhecida Naomi Watts ao lado de Laura Dern e Mark Ruffalo. Este foi o primeiro passo para o nascimento da mais recente adaptação de The Painted Veil, um antigo romance de W. Sommerset Maugham. Para Edward Norton, poder interpretar a personagem de Walter Fane sempre foi um dos seus grandes sonhos enquanto actor. Assim que surgiu a oportunidade de poder adaptar novamente o livro ao grande ecrã, o actor entrou de corpo e alma no projecto finaciando-o. Naomi Watts também se mostrou interessada, o filme iniciou-se e aos poucos o projecto foi ganhando forma.

The Painted Veil, raramente falha naquilo que se propõe. Situado no ínicio da década de 20, Edward Norton é Walter, um jovem investigador científico inglês que casa com Kitty, uma jovem mulher que anseia sair da casa e da tutela dos pais. Casar com Walter significa mudar-se para o outro lado do mundo e ir viver para Xangai. Mas o casal não irá ter uma vida em comum feliz. Walter, profundamente desinteressante, não é o homem com que Kitty sonhou. Kitty é uma mulher extrovertida e amante dos prazeres da vida e ele parece não a querer acompanhar. Ela cedo se irá refugiar numa relação adúltera que irá marcar profundamente a vida do casal. Quando Walter descobre a sua traição, a vingança e a dor irão sobrepôr-se a quaisquer outros sentimentos. A alternativa que oferece a um divórcio impensável segundo a mentalidade e costumes da época é que Kitty o acompanhe numa missão humanitária a uma aldeia, perdida no interior da China e arrasada por um surto de cólera. Esta decisão, perigosa e insensata poderá custar a vida de qualquer um dos dois, mas Walter toldado pela dor da traição encontra-se cego a quaisquer argumentos. Afastados de tudo e de todos, imersos numa cultura e costumes completamente diferentes, Walter e Kitty irão iniciar uma jornada de descoberta onde as suas vidas irão tomar rumos inesperados.

As interpretações e a química existente entre Edward Norton e Naomi Watts comprovam porque são dois dos mais talentosos actores a trabalhar actualmente. Enriquecido pela envolvência dos cenários e da cultura chinesa somos transportados para os arrozais perdidos de uma China que já não existe, enquanto a fotografia sumptuosa de Stuart Dryburgh nos preenche os sentidos .

The Painted Veil aproxima-se muito dos clássicos melodramáticos dos anos 50 e não é verdadeiramente inovador. Não existem rasgos de originalidade no filme, mas o próprio tema também não se predispõe a isso. Esta é sobretudo uma história muito bem contada, apoiada em duas das melhores interpretações vistas no ano passado e executado com uma realização segura e precisa. E só por isso merece ser vista e apreciada.

O melhor: Edward Norton e Naomi Watts, com interpretações contidas e honestas, ajudados por um argumento bastante bem estruturado que torna a narrativa bastante coerente.

O pior: A situação política da China naquela época nunca é verdadeiramente explorada e a sensação com que se fica é a de que o único verdadeiro problema que o país enfrentava era a cólera.


The Fountain

Março 22, 2007

The Fountain (2006)

de Darren Aronofsky 

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Há alturas na vida em que ficamos verdadeiramente sem palavras. É assim que me sinto depois de ter visto The Fountain. Nada nos prepara para o impacto que absorvemos com este filme. Ver este filme é uma experiência, não é apenas assistir a mais uma sessão de cinema. Visualmente arrebatador, The Fountain é uma história de amor que se estende por mil anos. Mas esta é uma forma redutora de o classificar. Seria simples de mais afirmar apenas isso sobre um filme que aborda temas tão complexos como a morte, a busca pela vida eterna e a imortalidade, a fragilidade da nossa existência, a procura do seu significado e da felicidade, conjugado-os com elementos espirituais, místicos e até naturais. Em suma, esta é uma história sobre a vida, poética e dolorosa em toda o seu significado, e incómoda relativamente às questões existenciais que nos coloca.

Tentando resumir algo que parece impossível, The Fountain é uma saga que se inicia há quinhentos anos atrás nas selvas sul-americanas. Um conquistador espanhol, Tomas, busca, a mando da Rainha Isabel a chave para a vida eterna, que segundo rezam as lendas índias se encontra oculta naquelas paragens. Nos nossos dias, Tom, um médico e investigador luta contra o tempo e a morte. Izzi, a sua mulher, encontra-se doente com um cancro. Apenas os avanços nas investigações de Tom poderão apresentar alguma esperança que possa conduzir a uma cura. Entretanto Izzi vai escrevendo um livro, intitulado The Fountain, sobre um conquistador espanhol que busca na América do Sul a fonte da vida eterna, uma árvore, que poderá salvar a sua Rainha. Quinhentos anos mais tarde somos transportados para o futuro, no qual Tommy vagueia sozinho no espaço, numa bolha, acompanhado apenas por uma árvore e pelos fantasmas do seu passado. Tommy procura a única forma de ressuscitar e trazer de volta o seu grande amor. Mais uma vez luta contra o tempo e contra a morte.

Darren Aronofsky, o realizador, já nos tinha apresentado uma pequena obra-prima com Requiem For A Dream, mas agora supera quaisquer expectativas. Marcadamente pessoal e inspirado por eventos vividos pelo próprio, este é um filme que nos leva a repensar o nosso lugar no mundo. Interpretado por Hugh Jackman e Rachel Weisz, ambos no topo da sua forma, com actuações pontuadas por uma sensibilidade impressionante, o filme é acompanhado por uma banda sonora inesquecível de Clint Mansell e por uma construção gráfica e cénica extraordinárias. Estranhamente ignorado pela grande maioria das cerimónias de prémios do final do ano passado, The Fountain dividiu os críticos e as audiências. É um filme que apenas visto pode ser discutido. Talvez pelos temas que foca esteja muito à frente do seu tempo, mas isso é algo que apenas o futuro nos poderá dizer. Talvez dentro de mil anos…

O melhor: Tudo.

O pior: Não poderia durar um pouco mais?


Pan´s Labyrinth

Março 18, 2007

Pan´s Labyrinth (2006)

de Guillermo del Toro 

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Guillermo Del Toro já nos habituou a recriar mundos fantásticos de uma forma exemplar em filmes mais comerciais como Blade 2 ou Hellboy, mas nada nos prepara para o assombro que é Pan´s Labyrinth. Filmado inteiramente em espanhol no período imediatamente após a guerra civil espanhola o realizador mexicano oferece-nos uma verdadeira história de fadas escrita para adultos em que o amor, a perda, o sacrificio e a coragem de uma criança irão ser postos à prova com consequências dolorosas.

Del Toro apresenta-nos uma história fantástica sobre uma menina, Ofelia, que vê a sua pequena existência mudar radicalmente quando a sua mãe, grávida, se casa com um cruel capitão pertencente ao regime franquista. Apaixonada por histórias de fadas, Ofelia, acaba por se refugiar num mundo muito seu como forma de escapar ao terror que é a sua nova vida. A sua mãe, debilitada de mais por uma gravidez dificil, de pouco lhe pode ajudar. O Capitão Vidal, o seu padrasto, reprime de forma brutal todos os que se opõem ao regime e aos poucos somos introduzidos num mundo em que a tirania de um homem se sobrepõe a qualquer hipótese de felicidade. Lentamente, e como resposta, Ofelia irá refugiar-se num pequeno mundo no qual um fauno, um ser fantástico composto por todos os elementos da natureza, a convence de que ela é uma princesa perdida de um reino subterrâneo e que para recuperar o seu lugar de direito terá que superar três provas impossíveis.

Visualmente irrepreensivel e dotado de uma fotografia fantástica, toda a ambiência deste cruel mundo de fantasia transporta-nos também a nós para longe do terror que é a vida triste daquela criança. Mas sabermos que o outro lado não é um refúgio seguro, mas que pode ser a única esperança num futuro melhor não nos alivia em nenhum momento do filme.  Pan´s Labyrinth é uma fábula mas não é infantil. Longe disso. Infelizmente, as questões que coloca são bem reais e pertencem inteiramente ao mundo dos adultos. Lida com tudo o que mais de negativo existe na condição humana e o facto de ser mostrado pelos olhos de uma criança sonhadora só o torna mais doloroso. Este é um daqueles filmes que nos acompanha e nos remói durante dias seguidos. É dificil esquecer o olhar sonhador de Ofelia sem nos lembrarmos que também um dia já fomos assim. Para Ofelia não existe escolha, este mundo alternatico existe num local onde ela consegue ter algum poder para controlar o seu destino e o daqueles que ama. Os seus sacríficios são sempre feitos em nome da mãe, de um irmão que ainda não nasceu e da sua própria felicidade. Mas o preço que se paga para atingi-los poderá ser alto demais.  

O melhor: A riqueza do argumento e a recriação do mundo fantástico de Ofelia que é um verdadeiro prodigio visual.

O pior: Nada.